quarta-feira, 2 de junho de 2010

Uma dessas pessoas no mundo

Por Augusta de Andrade

Eu vejo um mundo. Um mundo colorido. Um mundo inteiro de pessoas, de todas as cores, raças, credos, medos, pudores, anseios e dores.

Eu vejo um mundo de pessoas chorando, pessoas rindo, pessoas agradecendo, pessoas reclamando. Pessoas parando. Pessoas indo, pessoas voltando.

Pessoas continuando, pessoas cessando.
Pessoas renascendo, pessoas engessando.
Pessoas levantando, pessoas se entregando.
Pessoas recomeçando, pessoas ficando.
Pessoas perdoando, pessoas guardando.
Pessoas zombando, pessoas aceitando.
Pessoas julgando, pessoas respeitando.
Pessoas cinzas, pessoas coloridas.
Pessoas endurecidas, pessoas amolecidas.
Eu vejo um mundo cheio de pessoas.

Eu sou uma dessas pessoas.

Sou uma dessas pessoas que, iludida, infantil e utopicamente, carregam na alma um mundo colorido. Uma dessas pessoas que fazem parte desse mundo todo dúbio, todo divergente (mas disciplinado em sua desordem).

Eu sou uma dessas pessoas que tem uma fé em essência, que nunca se esvai, mas que com alguns tropeços perde o ritmo e pensa que a fé saiu da rota.

Sou uma dessas pessoas que quando andam pela rua se percebem olhando para as outras, ora julgando, ora admirando, respeitando.

Sou uma pessoa que está no mundo querendo saber, a todo instante, o que está para acontecer. Mas sou também uma dessas pessoas no mundo que vivem por uma boa surpresa seja ela grande ou pequena.

Sou uma dessas pessoas que colecionam as melhores lembranças, da vida e de todo o mundo vivido. Mas que também se esquiva das tristes por medo de encontrar algo que deixou estancado lá atrás.

Sou uma dessas pessoas no mundo que erram e não se perdoam. Mas que quando apontada se defende, ora por excesso de amor próprio, ora por burrice emocional.

Sou uma dessas pessoas que preferem, quase a maioria do tempo de vida, a infantilidade de acreditar que o mundo tem solução sim. Mas sou uma dessas pessoas que também esbravejam toda a fúria em poucos minutos suando a garganta de tanto falar, gritar, impor e exigir, cheia de medo de nada dar certo.

Sou uma dessas pessoas que em momentos de razão veem a felicidade como um objeto concreto. Mas que na maioria das vezes percebem a felicidade como o sujeito mais abstrato do mundo.

Sou dessas pessoas que riem por bobagem e choram por qualquer calamidade.

Sou dessas pessoas que falam do que gosta. Sou dessas pessoas que gostam de brincar, escrever, falar, sonhar, lutar, correr, amar, comer, ganhar, doar, dar, orar, pedir, receber.

Sou uma dessas pessoas que se emocionam com um monte de gente junta unida por uma ou muitas causas. Que se emocionam quando veem todas essas pessoas, cada uma ao seu modo de ser e querer ser, indo a uma única direção, concordando com uma boa causa. Pessoas falando, lutando, cantando, enchendo o peito de esperança e o corpo de garra, a alma de gana e o coração de paixão.

Sou uma dessas pessoas que estão no meio de milhões, buscando todos os dias as mesmas coisas, em ordem desordenada, que todas as outras que passam ao lado ali, aqui ou acolá.

Sou uma dessas pessoas que são felizes, simplesmente por estarem vivas e saberem que ao primeiro bom dia do sol, todos os dias, milhões de outras pessoas estarão lá do lado de fora, da vida, do coração e até mesmo da porta. E muitas delas esperando por elas. Esperando por mim, por todos os meus defeitos e qualidades, erros e acertos, para que assim o mundo continue girando e acontecendo, todos os dias, ininterruptamente. Sou uma dessas pessoas que ama ver tudo isso e saber disso tudo, porque o mundo não é só agora, o mundo é todo dia e isso sim é pra sempre.

Augusta de Andrade

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